quinta-feira, 5 de junho de 2008

Cadeira de Balanço

Nesta manhã eu estava muito contente e fui procurar Pen Log-Sun, o velho sábio chinês.
Cheguei ofegante e o encontrei sentado em um tronco, perto do regato.
"- Mestre, ganhei uma cadeira, presente de amigos, da Letto Móveis !"
"- É, realmente é um presente de amigos", disse Pen Log-Sun.
"- É uma cadeira de balanço..."

"- E na sua idade vem a calhar," ponderou ele. "É interessante como a cadeira de balanço está ligada ao uso de pessoas idosas e não de crianças. Em outros tempos havia o cavalo de pau que balançava, mas era mais a idéia do cavalo como brinquedo e não o balanço como conforto. Talvez o balanço da cadeira seja para incentivar a movimentação do idoso, melhorar a circulação. Tenho visto as tais "cadeiras do papai", acolchoadas e estáticas, como se o "papai" fosse colocado ali para não sair mais. A cadeira de balanço não, ela é mais versátil, mais dinâmica, mais prática. E por tudo isso termina sendo mais confortável."
"- E é verdade, Mestre, esta cadeira é anatômica !
"- Então, disse Pen Log-Sun,
ela deve funcionar como se fosse um conjunto de vértebras externas, que acolhe o corpo. E a proporção de membros, espádua e cabeça devem estar , como diremos, em estática simples, ou seja, no repouso sem esforço.
"-
Mas Mestre, como pode ser uma "estática simples" se a cadeira é de balanço ?"
"- Perceba," disse Pen Log-Sun, "
que você mesmo já deu a resposta: é a cadeira que balança e não você. Você está na cadeira - de uma maneira "estática simples" - mas é a cadeira que balança, e você com ela, evidentemente".
"- Mas Mestre, porque balançar nos é tão agradável ? "
"- Não esqueça",
disse o velho sábio chinês, "
que nossa descendência é dos símios, e eles se balançam nas árvores. Não possuem o hábito continuado do chão firme, que o homem só adquiriu depois. O sentar em cadeira é um hábito cultural adquirido pela espécie humana. Vem a ser uma posição intermediária entre o estar em pé e o estar agachado ."

"- Mas Mestre", disse eu mais como provocação,"
as culturas orientais possuem posturas que prescindem da cadeira, usam o próprio corpo, como a ioga, por exemplo, isso não seria o mais correto?"

"- Pode parecer que sim", disse Pen Log-Sun, "
mas é uma parte da verdade. O sentar é uma ação cultural, e a cultura está ligada com o mundo das idéias e com o mundo da tecnologia. Veja por exemplo os reis. Além dos tronos, ainda eram - o papa ainda é - transportado em uma cadeira no ombro dos súditos. Os gauleses transportavam os seus chefes de pé, em cima de um escudo. São portanto as necessidades simbólicas que vão ditando e construindo as formas das cadeiras e por extensão, dos objetos".
"-
E esta cadeira de balanço que ganhei dos meus amigos é de machetaria."
"- Felicito você e seus amigos por isso" disse o velho sábio chinês, "a machetaria, arte que usa não só a madeira mas também metais e pedras, preciosas ou não, é uma arte antiga, e o nome provém do antigo francês "marquer" - marcar, e "marqueter"- ornar. Quando esta arte é aplicada a uma confortável cadeira de balanço significa que seus amigos conseguiram aliar a arte, a técnica e o bom gosto."
(Eduardo Sarno)


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